Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou prefeito pelo suposto recebimento de propina na administração municipal
Ana Luiza Albuquerque Catia Seabra SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO
Folha de São Paulo- O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), foi preso preventivamente na manhã desta terça-feira (22), em operação da Polícia Civil e do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). Ele é apontado como chefe do suposto grupo criminoso que teria instituído um esquema de cobrança de propina na prefeitura.
O Ministério Público acusa Crivella e outras 25 pessoas de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. A denúncia ainda não foi aceita pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mas a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita autorizou as prisões.
Imagens da TV Globo mostraram o momento em que o prefeito desembarcou do carro da polícia, trajando terno escuro, e entrou na Cidade da Polícia Civil, por volta das 6h30.
Após ser preso, Crivella disse a jornalistas que espera justiça e que enfrentou a corrupção na cidade. “Lutei contra o pedágio ilegal, tirei recursos do Carnaval, negociei o VLT, fui o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro”, afirmou.
Entre os denunciados, está o marqueteiro da campanha de Crivella em 2016, Marcello Faulhaber, que atuou esse ano na campanha do prefeito eleito, Eduardo Paes (DEM).https://s.dynad.net/stack/928W5r5IndTfocT3VdUV-AB8UVlc0JbnGWyFZsei5gU.html[ x ]
O MP-RJ também pediu a prisão de outros oito envolvidos, entre eles o empresário Rafael Alves e o delegado Fernando Moraes. Até a tarde desta terça-feira, sete mandados haviam sido cumpridos.
Também houve o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão, em razão de determinação judicial de sequestro de bens e valores na ordem de R$ 53 milhões.
À tarde, os advogados de Crivella entraram com um pedido de habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Eles questionam a competência da desembargadora Rosa Helena Guita para decidir sobre o caso e afirmam que não é possível encontrar na decisão nenhum fato concreto que justifique a prisão.
Marcelo Crivella está a nove dias do fim mandato, que termina em 31 de dezembro. Ele disputou a reeleição e foi derrotado por Eduardo Paes (DEM), que toma posse em 1º de janeiro de 2021.
Com a prisão de Crivella, assume interinamente o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM). O vice-prefeito Fernando Mac Dowell morreu em maio de 2018.
O Ministério Público investiga um esquema de pagamento de propina na prefeitura –chamado de “QG da propina”– comandado pelo empresário Rafael Alves, amigo de Crivella. Outros operadores do prefeito, segundo o órgão, seriam o ex-tesoureiro Mauro Macedo e o ex-senador e suplente de Crivella no Senado, Eduardo Lopes.
Em setembro, Crivella havia sido alvo de mandados de busca e apreensão em sua casa e em seu gabinete no Palácio da Cidade.
Para o Ministério Público, o prefeito tinha ciência, autorizava e se beneficiava das ilegalidades que teriam sido cometidas no município.
O órgão juntou conversas via WhatsApp entre integrantes do suposto grupo criminoso, que cobravam o recebimento de quantias em espécie a pedido do “Zero Um” –codinome atribuído pela investigação ao prefeito.
O inquérito contra Crivella foi aberto no ano passado com base na delação premiada de Sérgio Mizrahy, um agiota da zona sul da cidade.
Ele apontou Rafael Alves, ex-dirigente do Salgueiro e da Viradouro, como o responsável por cobrar propina na Riotur. A empresa municipal de turismo era presidida até março por seu irmão, Marcelo Alves.
O delator disse que o empresário cobrava propina de empresas contratadas pelo município ou que têm dívidas a receber de gestões anteriores. O agiota afirmou que recolhia cheques de Rafael Alves, recebidos como vantagem indevida, para trocar por dinheiro vivo.
Mizrahy também disse que de 20% a 30% da propina ficavam com Marcelo Alves, e outro percentual cabia a Crivella.
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