Fonte: Folha de São Paulo
Documento critica atuação do governo federal no combate à epidemia da Covid-19
Um grupo de ex-alunos da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou, na terça (19), uma carta aberta pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Até a tarde desta quarta (20), o abaixo-assinado reunia 402 assinaturas, entre ex-alunos, ex-residentes, professores e docentes de medicina da universidade.
Nomes como os infectologistas Reinaldo Salomão e Paulo Roberto Abrão Ferreira, os psiquiatras Jair de Jesus Mari e Marcos Pacheco de Toledo Ferraz, o neurologista Acary Souza Bulle Oliveira, o hematologista Nelson Hamerschlak, o cirurgião plástico Miguel Sabino Neto e a ex-ministras Eleonora Menicucci endossam a carta.1 6
Moro: O depoimento de Moro sobre seu pedido de demissão é o primeiro passo da investigação aberta pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e autorizada pelo STF. O objetivo é descobrir se as acusações feitas pelo ex-juiz contra Bolsonaro são verdadeiras ou se ele mesmo pode ter cometido crimes. Adriano Machado – 13.mai.20/ReutersLeia Mais VOLTA
“O Brasil, que já foi referência no manejo de diferentes moléstias infecciosas, que já foi exemplo de vacinação em larga escala, que vinha num crescendo de investimento em pesquisa científica, encontra-se entregue a governantes que, negligentes e imperitos, são diretamente responsáveis por agravar uma situação já em si gravíssima, a pandemia pelo novo coronavírus“, diz o texto.
“São inúmeros os exemplos de manifestação pública de Jair Bolsonaro minimizando os riscos de se contrair COVID-19 e desdenhando do que é cientificamente preconizado, como evitar aglomerações, seguir as medidas de higiene e fazer o isolamento social”, continua o manifesto.
“Entendemos que tais posturas e ações perpetradas pelo presidente Jair Bolsonaro configuram crime de responsabilidade e contra a saúde pública”, segue a carta.
Na segunda (18), um grupo de ex-alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, divulgou um abaixo-assinado online pedindo o impeachment de Bolsonaro. Até a tarde desta quarta (20), o documento reunia mais de 1.450 assinaturas.
Leia a íntegra do manifesto abaixo:https://s.dynad.net/stack/928W5r5IndTfocT3VdUV-AB8UVlc0JbnGWyFZsei5gU.html[ x ]
“Por diferentes motivos escolhemos ser médicos e diferentes são nossas visões políticas. O exercício ético da medicina, no entanto, e a busca pela excelência, que se traduz em saúde no sentido mais abrangente, é o mesmo.
Como profissionais que tiveram o privilégio de se formar na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo e que tiveram, então, acesso a ensino público, gratuito e de qualidade, transmitido por mestres a quem queremos seguir honrando; como médicos que juraram segundo Hipócrates; como brasileiros que pretendem retribuir o investimento de dinheiro público feito em seu desenvolvimento profissional, nos vemos na obrigação de nos posicionar diante da calamidade sanitária em que se encontra nosso país.
O Brasil, que já foi referência no manejo de diferentes moléstias infecciosas, que já foi exemplo de vacinação em larga escala, que vinha num crescendo de investimento em pesquisa científica, encontra-se entregue a governantes que, negligentes e imperitos, são diretamente responsáveis por agravar uma situação já em si gravíssima, a pandemia pelo novo coronavírus.
A divulgação e o estímulo a tratamentos que não só estão provados ineficazes como podem ser
prejudiciais, caso da hidroxicloroquina e da ivermectina para a infecção por SARS-CoV-2, tornam Jair Bolsonaro e seu ministro da saúde Eduardo Pazuello nada menos que criminosos, induzindo profissionais da saúde a cometerem imprudência e imperícia. Também criminoso foi o manejo deplorável da crise do oxigênio em Manaus, perante a qual, embora tivessem sido informados a tempo de agir, pouco ou nada fizeram.
Assim como os governantes de outros tantos países, Bolsonaro e Pazuello tiveram tempo de planejar estrategicamente todos os passos da vacinação, mas optaram, pelo contrário, por difundir descrédito à imunização, gerar conflitos diplomáticos que agora afetam nosso abastecimento de insumos essenciais (da produção à aplicação de vacinas) e faltar com planejamento estratégico para testagem em massa, considerado ponto fundamental para o controle da transmissão viral.
São inúmeros os exemplos de manifestação pública de Jair Bolsonaro minimizando os riscos de se contrair COVID-19 e desdenhando do que é cientificamente preconizado, como evitar aglomerações, seguir as medidas de higiene e fazer o isolamento social.
Entendemos que tais posturas e ações perpetradas pelo presidente Jair Bolsonaro configuram crime de responsabilidade e contra a saúde pública. Por todos os descalabros já apontados, e:
1- Pelo fato de, em plena pandemia, termos pela primeira vez um ministro da saúde sem conhecimento técnico quanto ao que precisa gerenciar;
2- Pela incapacidade de coordenar e liderar Estados e Municípios num esforço conjunto e unidirecional de combate à pandemia;
3- Pela sabotagem consciente e proposital às medidas comprovadamente eficazes e recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no combate à pandemia, tais como uso de máscara e prevenção de aglomerações;
4- Pelas inúmeras e crescentes mortes evitáveis ― pelas quais o presidente é indireta ou diretamente responsável,
Pronunciamo-nos aqui abaixo-assinados, nós, médicos egressos da Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo, a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Deixou de ser uma questão ideológica: é pela defesa da saúde de nosso povo. BASTA!”
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