Quando pessoas em posição vulnerável que sofreram abuso de poderosos se enchem de coragem e decidem falar, um efeito dominó acontece: toda a sociedade se move com elas. Ontem à noite, o Intercept tornou públicas denúncias importantes de abuso sexual — desta vez, na Igreja Católica. “Jovens do Mosteiro de São Bento acusam religiosos de abuso sexual” é um trabalho de fôlego que exigiu um ano e meio de apuração nacional e internacional.
A reportagem de Caroline Cavassa e Janaina Cesar ouviu denunciantes e testemunhas e reuniu relatos impressionantes — e revoltantes — de ex-seminaristas que implicam noviços, monges e até o abade responsável pelo famoso mosteiro em São Paulo. Há indícios de acobertamento pela instituição. É importante que você saiba por que esse é o tipo de material que temos como missão publicar, ao fazer jornalismo investigativo.
Os jovens Rodrigo e Felipe (nomes fictícios para proteger a identidade das vítimas), que falaram a Caroline, ainda eram menores de idade, tinham 16 e 17 anos, quando os abusos teriam acontecido. Rodrigo sequer havia contado detalhes da história na frente dos pais, o que aconteceu durante a entrevista. Foram horas de relatos interrompidos por algumas crises de pânico do rapaz, que também desenvolveu uma depressão profunda.
Os dois ex-seminaristas hoje dependem de remédios de uso controlado e contaram que, devido aos traumas, à pressão e a chantagens e perseguições no mosteiro, chegaram a tentar o suicídio. Não é caso isolado: transtornos psicológicos, mania de perseguição e tendência suicida acometem com frequência vítimas de abusos. E as que conseguem denunciar ainda podem sofrer processos, represálias e discriminação. Por isso é tão importante uma vítima falar: quando uma fala, várias tomam coragem e falam também. Sabemos disso porque já vimos acontecer.
Seja para vítimas e suas famílias, seja para jornalistas que se abrem para receber, olhos nos olhos, os relatos de quem sofreu abusos, reportagens sobre esse tema devastador são sempre trabalhosas, delicadas, difíceis e até perigosas de fazer. Mas não podemos parar. Para que a gente continue nossa missão de amplificar a voz das vítimas e de revelar casos de assédio sexual, precisamos contratar bons profissionais, custear questões logísticas como deslocamento da equipe e, principalmente, fornecer total suporte jurídico.
Clique aqui e confira a reportagem completa publicada pelo The Intercept.
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