Por questões financeiras, 42% das adolescentes e jovens brasileiras que menstruam utilizam um absorvente por mais tempo que o indicado. A falta de dinheiro para adquirir um protetor íntimo já foi vivida por 32% dessas pessoas. E a indisponibilidade de um absorvente já fez com que 32% delas deixassem de ir a alguma festa ou encontro, 20% perdessem um dia de aula e 11% faltassem ao trabalho.
Esses e outros dados, que dão dimensão à pobreza menstrual no país, foram obtidos através de uma pesquisa realizada no âmbito do Projeto Novo Ciclo — iniciativa do Espro (Ensino Social Profissionalizante) em parceria com a Inciclo, empresa pioneira na fabricação e venda de coletores menstruais no Brasil. O trabalho foi realizado entre os meses de setembro e outubro de 2021 por meio de um questionário online, respondido por 3.735 jovens com idade média de 19 anos, de diversos Estados do país e pertencentes a famílias com variados perfis de renda.
Segundo o levantamento, a falta de um absorvente já levou 37% das respondentes que menstruam a utilizar algum produto substituto, como papel higiênico, panos/roupas velhas ou algodão para o cuidado íntimo. Os índices variam significativamente de acordo com renda e raça. Enquanto o índice de pessoas que afirmaram já ter recorrido a tais alternativas é de 32% entre as que se declaram brancas, ele sobe para 42% entre as autodeclaradas negras (pretas e pardas).
Os grupos mais vulneráveis – Pobreza menstrual é o nome dado à dificuldade de acesso de meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam a produtos básicos para manter uma boa higiene no período da menstruação. O estudo realizado pelo Espro e pela Inciclo permitiu identificar dois grupos de maior vulnerabilidade em relação ao tema. Um deles, mais geral: o das participantes de famílias com renda total de até um salário mínimo. Nele, 55% das jovens já usaram algum produto substituto pela falta de dinheiro para comprar um absorvente.
O segundo grupo compreende as meninas e mulheres negras (que se autodeclaram pretas ou pardas) e de famílias com renda de até dois salários mínimos. “Nesse recorte, as confirmações de improvisos devido à falta de absorventes chegam a 47%. São pessoas que tiveram menos acesso a informações e recursos para compra de produtos menstruais, o que as levou a faltar na escola e a usar produtos inadequados”, situa Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro.
Outro dado importante colhido pelo levantamento foi o de que 54% das jovens afirmaram não ter recebido orientações antes da primeira menstruação — sendo que 10% disseram não ter sido instruídas nem depois do primeiro ciclo. Das jovens que receberam orientação em algum momento, 93% a tiveram das mães, e 33% apontaram que o papel coube a outros parentes próximos do gênero feminino. Apenas 4% apontaram o pai como orientador.
É também com as mães com que as adolescentes e jovens se sentem mais confortáveis para conversar sobre menstruação (76%), seguido por amigos/amigas (64%) e o médico/médica (51%). A fonte número 1 de informações sobre o tema é a internet (91%), com destaque para as redes sociais (47% de menções). De acordo com a pesquisa, 78% das participantes se consideram muito bem ou bem informadas sobre menstruação.
“Para combater a pobreza menstrual é preciso desmistificar a menstruação, que ainda é vista como tabu em muitas casas. Encontramos na internet a oportunidade de conexão com os jovens para prover informação e oferecer soluções práticas, como é o caso do coletor menstrual”, comenta Mariana Betioli, fundadora e CEO da Inciclo. Sobre os coletores menstruais, capazes de auxiliar no combate à pobreza menstrual, 94% das respondentes disseram já ter ouvido falar do recurso. No entanto, apenas 13% confirmaram já tê-lo utilizado. A fundadora da Inciclo explica que por ser reutilizável, durável e ter um tempo maior de uso seguro, o coletor é, para grande parte das pessoas em situação de vulnerabilidade, uma excelente opção. “Seu uso gera economia, reduz o risco de infecção e traz muito mais praticidade para os dias de menstruação, principalmente para quem passa muito tempo fora de casa”, finaliza Mariana.
Aliados informados – Adolescentes e jovens que não menstruam, incluindo homens cisgênero, mulheres transgênero e pessoas não binárias, também foram convidados a participar da pesquisa. Nesse grupo (805 questionários preenchidos), um dado negativo: apenas 32% das pessoas se sentem muito bem ou bem informadas. E um em cada cinco aliados considera-se pouco informado ou não informado sobre o tema.
Entre os aliados, 46% dos pesquisados afirmaram se sentir à vontade para falar sobre menstruação com amigos(as); 43% com namorado(a)/companheiro(a); e 41% com a mãe. Nove em cada dez pessoas desse grupo dizem buscar compreender a situação e os sentimentos de quem menstrua, e 69% já compraram alguma vez absorventes ou medicamentos para alguém em período menstrual.
Outras constatações de como esses aliados de quem menstrua estão mais conscientes de tudo o que envolve o tema, de acordo com achados da pesquisa: 93% compreendem que a sociedade deveria fornecer produtos menstruais a pessoas vulneráveis que menstruam, 84% percebem a pobreza menstrual como um problema real e 90% entendem as necessidades e respeitam as vontades da pessoa que está menstruada.
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