Esta semana, o canal GloboNews revelou um dossiê feito por médicos da Prevent Senior denunciando fraudes em um estudo com o chamado ‘kit covid’, no começo da pandemia. A operadora de saúde pretendia confirmar a eficácia da cloroquina e da azitromicina no tratamento da doença.
Documentos mostram que o levantamento omitiu mortes de pacientes e que a empresa desrespeitou o próprio protocolo na prescrição dos medicamentos. Agora, parentes de pessoas que participaram da pesquisa cobram respostas.
O avô do radialista Rafael Ventura, Rogério, 83 anos, começou a se sentir mal no final de março de 2020 e foi até um hospital da Prevent Senior. “Ele teve aquele cansaço excessivo, aquele negócio de ficar ofegante como se tivesse corrido”, conta o neto.
Ele passou, então, a fazer parte do grupo de pacientes da pesquisa do chamado ‘kit covid’. As informações de Rogério foram registradas junto com as dos outros 635 pacientes em uma planilha: uma base de dados que deveria orientar o acompanhamento de cada pessoa e servir para embasar a conclusão da pesquisa.
O Fantástico isolou os dados de Rogério para identificar algumas das inconsistências do documento. Um dos campos, que questiona se “existe contraindicação para cloroquina”, foi preenchido com um “não”. Outro campo, logo ao lado, registra um “motivo de não utilização”: arritmia.
A cloroquina é contraindicada para pacientes com problemas cardíacos por causa de riscos cardiovasculares.
“A gente sabia do agravante. Ele já tinha tido um ‘problema de coração’. Então com a pandemia o vírus poderia agravar a situação dele”, diz Rafael.
A ficha tem mais um item que deveria ter impedido a medicação: hipertensão. Em meio às contradições, a confirmação: foram sete dias recebendo o ‘kit covid’.
O uso de cloroquina em pacientes como Rogério foi um dos motivos que levaram esse cardiologista a deixar a Prevent Senior. “A minha função seria acompanhar os pacientes que seriam incluídos nesse protocolo. Que na verdade era para escrever o ‘kit covid’ com hidroxicloroquina, azitromicina e outras medicações por telemedicina. Sem nenhuma avaliação presencial”, relata o médico.
O médico diz também que poucos pacientes passavam por eletrocardiograma, contrariando o próprio protocolo da Prevent. “A hidroxicloroquina é uma medicação que aumenta o risco de arritmias. Eu não posso falar que vai ser uma contraindicação absoluta, mas no mínimo deve ser realizada um eletrocardiograma”, completa o médico.
Como medicação para a Covid-19, a cloroquina está desacreditada pela comunidade científica internacional.
Publicado em G1 no dia 19 de setembro de 2021. Reprodução.
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