Por iniciativa da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro, a Ilha Fiscal, um dos maiores monumentos arquitetônicos e históricos do país, foi iluminado de violeta.
Foi um ato simbólico para conscientizar a sociedade contra o abuso de pessoas idosas e sensibilizá-la sobre a importância da proteção dos direitos humanos dos mais velhos.
Junho foi o mês Internacional de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa. Pela nossa ação (ou omissão, mesmo que de forma inconsciente), as violações vêm crescendo de forma alarmante no Brasil. Nos primeiros meses deste ano, mais de 33,6 mil casos de violações de direitos humanos em relação aos mais velhos foram registrados no Disque 100, cerca de 200 registros por dia.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) define a violência contra o idoso como uma ação única ou repetida, ou a falta de uma resposta apropriada, que ocorre em qualquer relação em que exista uma expectativa de confiança que é rompida, causando trauma ou sofrimento.
Há mais de 20 anos, a OMS identificou o problema como causa de aumento de vulnerabilidade, doenças e institucionalização. Ela preconiza que seu combate deva ser multissetorial, cooperativo, multidisciplinar e coordenado, destacando a relevância de uma rede de atenção à pessoa idosa que, para ser efetiva, demanda políticas públicas de assistência social e saúde.
O setor da atenção primária é de particular importância, já que os profissionais se deparam rotineiramente com casos de violência contra idosos, mas com frequência não o identificam como tal.
Trata-se de uma questão universal que tende a se aprofundar com o envelhecimento populacional mundo afora. Requer um amplo espaço de discussão e resolutividade. Faltam marcos legais e envolvimento de todos os setores da sociedade. A maior parte dos casos acontece no contexto da família, o que dificulta denúncias e reforça o tabu.
O problema está alicerçado na discriminação contra a pessoa idosa (idadismo) e é considerado crime pelo Estatuto do Idoso, com pena de reclusão. Vários tipos de violência compõem esse cenário desolador: física, psicológica, sexual, patrimonial, institucional e financeira.
Em relação a esse último item, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostrou um aumento de 60% nos registros de tentativas de golpes financeiros no ano passado em relação ao anterior. Em cerca de 70% das fraudes, o cliente é induzido a informar seus códigos e senhas para os estelionatários.
Os criminosos abusam da ingenuidade ou da confiança do usuário para obter dados pessoais e conseguir acesso às informações bancárias. Durante a quarentena, as instituições financeiras registraram aumento de mais de 80% nas tentativas de ataques do tipo “phishing”, que se inicia por meio do envio de emails, de remetentes desconhecidos, com vírus ou links que direcionam o usuário a sites falsos.
A prevenção eficaz contra a violência e o preconceito deve abraçar uma cultura do cuidado e solidariedade intergeracional, valorizando o papel dos mais velhos na sociedade.
Como tem sido amplamente demonstrado no curso da pandemia, essa não é uma questão apenas dos idosos, pois estamos no mesmo barco. O melhor que pode acontecer a um jovem é envelhecer com dignidade, cercado de respeito, com sua autonomia preservada. Seria isso que as centenas de milhares de mortes evitáveis pelo Covid-19 sugere?
Publicado em Como Chegar Bem aos 100 da Folha de S. Paulo em 30 de junho de 2021.
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